Descolar de escola, de aprender, de coisas, de mim...

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Moreira de Cónegos, Minho, Portugal
Olá, espero que este blogue tenha alguma utilidade para si, que o visita. Encontrei aqui uma forma de partilhar alguma coisa com o resto mundo, porque também gosto de receber...

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Editorial

Jornal "O Cónego"
Edição 62, Fevereiro de 2009

Teoria da falência

Há alguns dias atrás, estava numa livraria e não pude deixar de escutar um sujeito, cliente certamente, que estava à conversa com a proprietária. Dizia ele que estava a ler um livro de 1925 e via nesse livro um retrato da actualidade. A situação económica e social, dizia, em tudo se assemelhava com a actual conjuntura.
Ora, não vai há muito que eu acabei de ler um outro livro, este escrito em 1880, e as situações ali narradas são o espelho do que se passa agora. O livro em questão é “Germinal” de Emile Zola, um escritor francês que retratou vários aspectos da sociedade francesa da época. Pois, nesse livro, ele retrata a luta de classe, duas faces da mesma moeda que se alimentam entre si, dependentes uma da outra num espaço onde têm de caber ambos. Uma crise financeira atirava para a ruína os senhores do dinheiro e o operário sofria com a fome, porque o sustento que lhe saía do trabalho escasseava.
O que foi antes, é algo muito actual em qualquer parte do mundo e afecta aqueles que sempre pensaram estar seguros num sistema protector e indestrutível. Agora chama-se lixo tóxico ou produtos tóxicos aos excedentes mortos do capitalismo. O capitalismo é o sistema mais produtivo conhecido até hoje, mas enriquece satélites que migram para lugar incerto. Muitos desses lugares são conhecidos, como esses falados paraísos fiscais, enquanto outros diluem-se em ostentações de riqueza que pouco ou nada contribuem para o bem da humanidade. Como resultado fica um núcleo empobrecido, instável. E, em última instância, corremos o risco de nos tornarmos nós mesmos, parte elementar desse núcleo, em lixo tóxico, alimentando este sistema caduco onde só o dinheiro vale.
Estamos de facto nos níveis de uma sociedade carente de outros tempos, mas este aspecto, creio que é mais visível no conteúdo material, porque no humano, devemos estar cada vez mais para o início dos tempos. A caminhar suportados pela força do dinheiro, depressa teremos as mãos e a alma vazias. Viver sem produzir, só serve os pobres, que o serão sempre mesmo que o dinheiro lhes cresça nas mãos.
A pergunta que continua a impor-se é se haverá alguém que duvide que a desgraça do capitalismo é a miséria do operário? E haverá alguém que duvide que o pior está para vir? Espero bem que em ambos os casos se coloque a dúvida, porque é nela que está a força para lutar e construir uma vida melhor.

Editorial

Jornal "O Cónego"
Edição 61, Janeiro de 2009

A vida tem de continuar…
Ao ver e sentir certas situações da vida, lembrei-me, nem sei como, do filme “All that Jazz – the show must go on”, um musical que vi na minha juventude. No filme, um encenador e argumentista tenta por em cena uma coreografia cheia de ritmo. Durante os seus esforços para arranjar actores e financiamento, é-lhe diagnosticada uma doença grave em fase terminal. A peça nunca chega a ser realizada, no entanto, ele anteviu-a nos delírios agonizantes da doença até ao último sopro do coração.
Fiz uma extrapolação desta personagem para o colectivo social em que vivemos, onde muitos projectos de pessoas e famílias se ficam pelo sonho, contrastando com uma realidade que agoniza de dia para dia e os consome até ao último tostão. E a vida tem de continuar. Essa é a situação real deste pedaço minhoto que já conheceu melhores dias. Muitas famílias viram-se obrigadas a emigrar, pois tornou-se impossível continuar acordado e sóbrio ao ver os seus escassos rendimentos serem devorados por uma gula gigante, que se chama “a nossa sociedade”. Resultado! Tiveram de procurar outra menos gulosa.
A juntar a isto, assiste-se a uma incapacidade de responder a uma população cada vez mais envelhecida, sem nada oferecer aos velhos e muito menos aos novos. Tal como é referido numa peça publicada neste jornal, esta terra já foi chão que deu uvas e todas as famílias bebiam do seu quinhão com os olhos postos no amanhã. Hoje, vive-se de olhos no passado, com uma temerosa nostalgia dum futuro duvidoso.
Por seu lado, os políticos pronunciam com cautelas a palavra “Crise”. Amigavelmente cúmplices dos eleitores, vamo-nos todos afundando, cada um com as suas mazelas. E a vida tem de continuar. Ainda há pouco tempo, uma voz sensata pediu para que se fale “Verdade”. Ah, a verdade. Se ela fosse melhor cultivada entre a política e os políticos, possivelmente estaríamos todos vacinados. Assim, estamos todos enfermos de doença enganosa. Vai ser um ano difícil, dizem.
Enquanto nós vivemos com as vacas magras, do outro lado do mundo, na China, iniciou-se o ano do boi. Este é para eles, o ano do trabalho, do esforço e da obstinação. Lá dizia Confúcio; “O mundo é grande e os bois são lentos, mas pacientes”. Por isso proponho para este ano, um ano de trabalho, de esforço, de obstinação, mas essencialmente de muita reflexão, que é o que nos distingue dos outros animais.Votos de bom ano e boas reflexões.