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Moreira de Cónegos, Minho, Portugal
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sábado, 14 de fevereiro de 2009

Editorial

Jornal "O Cónego"
Edição 61, Janeiro de 2009

A vida tem de continuar…
Ao ver e sentir certas situações da vida, lembrei-me, nem sei como, do filme “All that Jazz – the show must go on”, um musical que vi na minha juventude. No filme, um encenador e argumentista tenta por em cena uma coreografia cheia de ritmo. Durante os seus esforços para arranjar actores e financiamento, é-lhe diagnosticada uma doença grave em fase terminal. A peça nunca chega a ser realizada, no entanto, ele anteviu-a nos delírios agonizantes da doença até ao último sopro do coração.
Fiz uma extrapolação desta personagem para o colectivo social em que vivemos, onde muitos projectos de pessoas e famílias se ficam pelo sonho, contrastando com uma realidade que agoniza de dia para dia e os consome até ao último tostão. E a vida tem de continuar. Essa é a situação real deste pedaço minhoto que já conheceu melhores dias. Muitas famílias viram-se obrigadas a emigrar, pois tornou-se impossível continuar acordado e sóbrio ao ver os seus escassos rendimentos serem devorados por uma gula gigante, que se chama “a nossa sociedade”. Resultado! Tiveram de procurar outra menos gulosa.
A juntar a isto, assiste-se a uma incapacidade de responder a uma população cada vez mais envelhecida, sem nada oferecer aos velhos e muito menos aos novos. Tal como é referido numa peça publicada neste jornal, esta terra já foi chão que deu uvas e todas as famílias bebiam do seu quinhão com os olhos postos no amanhã. Hoje, vive-se de olhos no passado, com uma temerosa nostalgia dum futuro duvidoso.
Por seu lado, os políticos pronunciam com cautelas a palavra “Crise”. Amigavelmente cúmplices dos eleitores, vamo-nos todos afundando, cada um com as suas mazelas. E a vida tem de continuar. Ainda há pouco tempo, uma voz sensata pediu para que se fale “Verdade”. Ah, a verdade. Se ela fosse melhor cultivada entre a política e os políticos, possivelmente estaríamos todos vacinados. Assim, estamos todos enfermos de doença enganosa. Vai ser um ano difícil, dizem.
Enquanto nós vivemos com as vacas magras, do outro lado do mundo, na China, iniciou-se o ano do boi. Este é para eles, o ano do trabalho, do esforço e da obstinação. Lá dizia Confúcio; “O mundo é grande e os bois são lentos, mas pacientes”. Por isso proponho para este ano, um ano de trabalho, de esforço, de obstinação, mas essencialmente de muita reflexão, que é o que nos distingue dos outros animais.Votos de bom ano e boas reflexões.

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