Descolar de escola, de aprender, de coisas, de mim...

A minha foto
Moreira de Cónegos, Minho, Portugal
Olá, espero que este blogue tenha alguma utilidade para si, que o visita. Encontrei aqui uma forma de partilhar alguma coisa com o resto mundo, porque também gosto de receber...

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Torre de Vigia


"Linha severa da longínqua costa -
Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta
Em árvores onde o Longe nada tinha;
Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:
E, no desembarcar, há aves, flores,
Onde era só, de longe a abstracta linha".

"In - Horizonte"
Fernando Pessoa


Quim Carneiro é um homem da terra, não do mar, mas sente-o todos os dias. Trabalha no posto de vigia do Cais das Marés em Viana do Castelo a abastecer os barcos que se chegam à costa. E são muitos, de várias cores e feitios e, várias línguas também.
É um homem maduro, na língua e no feitio. Tem a antiga 4ª classe e é com ela, com a maturidade, com a língua e o feitio, que faz poesia. E é a olhar o mar, que todos os dias lhe vem(penso eu) a inspiração.
Tem dezenas de poesias escritas e guardadas na sua gaveta, que por um inevitável acaso de conversa mas mostrou. Em honra às poesias e aos poetas escondidos deste Portugal, deixo aqui um pequeno testemunho por ele escolhido, de entre os rabiscos da sua gaveta.


O Vento

Quem és tu?
Tu que me empurras e não te vejo,
Procuro agarrar-te e não consigo,
Cada vez tens mais força
E não te cansas.
Quem és tu?
Eu não te bebo
E pareço ébrio.
Eu que olho para o céu
E vejo as nuvens correr,
Pois tu as empurras…
Pois tu existes
E não mostras a força que tens.
Tu que enfureces o mar
E ele não te sustem.
E de novo pergunto.
Quem és tu?
Eu que te sinto
E não sei de onde vens;
Que te deram um nome.
Não tens pátria nem lar,
Não és mendigo,
Mas corres o mundo
Sem nunca parar.
E de novo te pergunto.
Quem és tu?
Eu que vejo a areia do deserto andar,
E não tem pernas,
Pois tu a empurras.
E eu não te vejo,
Mas tu estás lá.
Eu sei a certeza, pois tu existes.
Quantos te amaldiçoam
Por tu destruíres
E outros te abençoam
Por tu os ajudares.
Quem és tu?
Eu não penso mais,
Pois já estou cansado…
Não consigo saber de onde vens.
Quem és tu?


O Mar tem mais encanto

I
O mar tem mais encanto
Num dia de temporal
É ver o branco da espuma
Espraiando-se no areal.
II
Nas falésias rendilhadas
É ver o efeito que tem
É como Géisers na terra
Que sobem num vai e vem.
III
Nos dias de ventania
Olhando para todo o mar
Parecem gaivotas brancas
Em bandos a esvoaçar.
IV
Tão maltratado tu és
Pois que me digam que não
A culpa é toda do Homem
Sem ser chamado à razão.
V
Podem me chamar de maluco
Quando eu para ti falo
Eu tenho a minha razão
Por isso nunca me calo.
VI
Não é mentira o que digo
Pois digam-me se não é verdade
Há quem se queixe e não fale
Como vou eu ficar calado.


Joaquim Cecílio Pedro
Torre de Vigia do Cais das Marés
Viana do Castelo

quinta-feira, 12 de junho de 2008

... As palavras... As palavras...


Para a Isabel... pelo respeito pelas palavras... pela beleza interior... pelo seu crescimento...


As Palavras

As palavras,
São como os diamantes.
Umas vezes frias,
Outras vezes escaldantes.
Umas pecadoras.
Algumas com medo de senhoras.
Umas,
Não querem sair da boca.
Mas outras,
Cantam alegremente.
Algumas,
Caem de repente,
São belas.
Junta-te a elas!

As palavras

As palavras,
deves escutar.
Mesmo que sejam más,
Ou boas de espantar.
Escuta, que te faz bem!
Podes escutar,
Que é o que te convém.
Cuidado!
Às vezes podem queimar.
Coitado!
De quem se vai magoar!

Catarina Isabel Machado
4º ano do 1º Ciclo

CRVCC, uma justiça social

.
Apresento-me como aluno no processo RVCC, Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências na Escola Secundária de Caldas de Vizela. Quando no primeiro dia em que fomos apresentados, formandos e formador, senti-me como um “galito” a arejar as penas. Sabia e sei das potencialidades que tenho, aprendidas nos anos em que fui aluno, acrescentadas pela vivência de algumas dezenas de anos. No contacto que vou tendo com os mais jovens, quer no âmbito familiar, quer na minha roda de amizades, apercebo-me de que não há assim um tão grande défice de conhecimento de parte a parte. Há até um conhecimento mais profundo em certas áreas, que o adulto adquiriu por experiência de vida.
Porém, a aprendizagem, mesmo quando se pensa ser um recalcamento do que se aprendeu, traz a mesma incógnita dos tempos em que se sabia estar a aprender, mas agora com novas variantes. O que é que aprendi? O que tenho feito com a aprendizagem? Qual o valor dos meus conhecimentos? Já Goethe (sec. XVIII) dizia, “Só sabemos com exactidão quando sabemos pouco, à medida que vamos adquirindo conhecimentos”.
Num dos primeiros textos que escrevi, supostamente para um dossier que hei-de construir, fiz, por instinto, referência à minha experiência de vida como se me revisse num “déjà-vú” revisitado. Sim, de facto já havia feito introspecções para discernir as encruzilhadas da vida, não que as atribua a fenómenos paramnésicos, mas porque faz bem parar de vez em quando para pensar. Este processo de RVCC está a ter mais uma vez esse efeito, só que agora com o objectivo claro de emancipação do ego e, com a garantia de qualidade. Através do visionamento analítico das aprendizagens decorrentes da experiência de vida de cada um, é bem possível reforçar esses conhecimentos complementados com trabalhos onde o ensino escolar tem de facto uma palavra a dizer. Essa palavra, essa esperança que muitos têm procurado e pelas mais variadas razões não acham, esse capricho ou procura do saber, pode muito bem, estar no processo RVCC.
As sociedades estão a enfrentar uma crise de “nivelamento”. A chamada “globalização” está a ter consequências na sociedade mundial e é preciso estar atento aos sinais dos tempos. O aluno RVCC, ao integrar as “Novas Oportunidades”, está a contribuir para esse “nivelamento”, está a atravessar a ponte geracional para melhor enfrentar as diferenças dum planeta cada vez mais complexo, cada vez mais de todos onde o esforço individual é importante para bem comum. Penso, por isso, que esta oportunidade que se dá aos cidadãos de poderem acrescentar à sua vida o reconhecimento institucional das suas capacidades enquanto cidadãos activos, é benéfica, tanto a nível pessoal, como num contexto global de uma sociedade mais activa e mais participativa.

Xavi

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Concurso de Pintura "Re-Imaginar"


A Morávia - Associação Juvenil de Moreira de Cónegos, lançou um concurso de pintura sob o lema "Re-Imaginar".
Depois de no ano passado ter realizado um evento semelhante, o concurso de fotografia "Moreira Entre Vistas" que superou as expectativas, este ano a associação optou por uma área um pouco diferente e organizou um concurso de pintura. O tema dos trabalhos é livre, o que dá uma possibilidade infindável aos concorrentes na escolha dos seus trabalhos. Há três prémios aliciantes (500, 250 e 150 pintores) à espera da decisão do júri, que irá reunir depois de recolhidos os trabalhos serem entregues.
Se tens jeito para a pintura, não hesites e concorre.
Vai a www.moravia.pt e faz o download do regulamento.
Lê com atenção e... espera pela decisão do júri.
Participa!!!

domingo, 11 de maio de 2008

Down Hill para a juventude... e para quem tem pernas



Em Moreira de Cónegos realizou-se o 1º Down Hill com um bom impacto no público assistente. Algumas dezenas de pessoas deslocaram-se à pista que descia pelo monte para assistir a um espectáculo inédito na vila.
Este evento foi organizado pela Associação Morávia, uma associação juvenil que desenvolve actividades junto dos jovens. Deu algum trabalho fazer os preparativos para que tudo corresse bem, o que felizmente aconteceu, e toda a organização ficou satisfeita assim como o público e concorrentes. Nesta edição, participaram 30 atletas e já se pensa organizar nova prova para o ano, desta vez com mais participantes e, quem sabe, a contar para o regional da modalidade.

terça-feira, 18 de março de 2008

Inauguração da Biblioteca de Moreira de Cónegos


“Amiel” dizia e “Torga” citava:
“Chaque jour
nous laissons une partie
de nous-mêmes en chemin.”
“Cada dia deixamos uma parte
de nós mesmo no caminho”
Esta foi a citação que abriu a cerimónia de inauguração da biblioteca de Moreira de Cónegos.
Esta biblioteca foi criada pela Junta de Freguesia e contou com a participação da população que ofereceu livros para o recheio do espaço.
Na inauguração estiveram presentes várias personalidades com responsabilidades públicas, assim como o seu benfeitor Júlio da Silva Sampaio e o poeta e compositor Pedro Abrunhosa. A sessão foi apresentada e conduzida pela Morávia - Associação Juvenil de Moreira de Cónegos que pôs no lugar de apresentadores, duas crianças do 1º Ciclo e um elemento da associação. Durante a sessão foram declamadas poesias de Pedro Abrunhosa acompanhadas por um violino, um violoncelo e uma viola. O salão Nobre da Junta de Freguesia foi pequeno para receber todo o público que se deslocou para ver a sessão e foi uma cerimónia simples, mas muito bem conseguida e apreciada como convém quando se trata de divulgar a cultura ao serviço da população.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Teatro em Moreira de Cónegos



O grupo de teatro TERB (Teatro de Ensaio Raul Brandão) vai representar a peça "As Mulheres de Atenas", no Centro Cultural e Recreativo de Moreira de Cónegos. O espectáculo realiza-se este sábado, dia 02 de Fevereiro, a partir das 21 horas. A entrada é livre e após o começo da peça (às 21h30), fecham-se as portas.

Esta representação é organizada pela Morávia - Associação Juvenil de Moreira de Cónegos.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

O Avião das Novas Oportunidades








Uma viagem pelas competências adquiridas através da vida.

Há muitas coisas para trás, mas quem sabe se o destino nos prepara surpresas agradáveis. Vale a pena fazer o esforço.

Boa viagem a todos os passageiros.

domingo, 20 de janeiro de 2008

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

O filho da morte

"no campo de refugiados"

“do livro Cronicando”
Mia Couto

A mulher estava morta, em puro e total falecimento. Seu ventre inchado recortava o inteiro azul. O cadáver, adiantado, não tinha salvação. À sua volta zunzunavam as moscas, devotas carpideiras.
Daquele corpo não se esperava senão o último pudor: ele que se cobrisse, em deferência à vida. Convidasse a poeira, invocasse a noite, fizesse o que entendesse mas poupasse o olhar dos viventes. Porque, naquele lugar, já não havia força para enterrar ninguém. Os defuntos se extinguissem às suas custas. Os outros, únicos residentes, estavam demasiado ocupados em sobrevivências.
Refugiados, ali restavam, sem fazerem favor à morte. Por que não cediam, noivos que estavam da ausência? Seria recordação da esperança, saudade de um antigamente?
Talvez, por isso, eles se tiravam da visão da defunta. Os refugiados se doseavam, nas aplicações da tristeza. Estarem vivos era seu resguardado segredo. Estivessem eles no território da vida e teriam seguido a tradição: levavam a grávida à cova e, antes de a sepultarem, lhe abriam o ventre. Nem que fosse para ganharem certeza sobre o sexo do feto. Mas agora não, todos se faziam ninguém.
E assim a morta teimava em sua solidão. Parecia assunto apenas capaz de esquecimento quando do corpo começou a emergir uma levíssima respiração. Parecia as costelas regressavam à sua imperceptível dança. O que seria?
- É inchaço de gases, digestão dos falecidos.
Os presentes se aproximaram, atraídos pelo lampejo daquela pele luzidia. Espreitaram, debicaram com os olhos. Foi quando, de entre as coxas da falecida, se viu o desfolhar de um pequeno corpo.
Os olhos se alargaram de espanto a espanto. A coisa carnuda progredia, excrescendo como um desembrulho, ventre afora. A morta estava, creia-se, em obras de parto. A vida, em seu corpo, fazia horas extraordinárias.
Ninguém mexeu, nenhuma mão se baixou. Fosse a criança filha da vida e as todas mulheres se anunciariam de tias, incontáveis seriam os peitos de amamentar. Mas aquele menino nascera da foz para a fonte, em avessa e agoirenta execução.
Nem valesse o recém-nascido declarar uma choradeira, beicinho a convidar compaixão. Os presentes já davam costas ao sucedido e se afastavam em arrastados passos. Parecia os pés deles eram pertença antecipada do chão, ambos em recíproco afecto.
Foi quando Tazarina se desapinhou da multidão. Ela tinha um ar de a si mesmo se faltar. Se conhecia por ser cabistonta, esquizofrénica, mazelenta e tão magra que, mesmo sem roupa, sua nudez não se notava. Nunca se lhe ouvia palavra, vogalzinha que fosse. Faltava-lhe o cabelo, restando-lhe duas magras tranças caídas sobre a testa. Tazarina sempre toda tremia, sequer suas mãos ela segurava. Bamboleava de várias bandas, parecendo ter mais joelhos que pernas, um número ímpar e infinito de tornozelos.
Sua única preocupação era apanhar cigarras. Junto das acácias ela chamava os bichos, imitando-lhes o canto. Segurava-lhes com seus dedos trémulos, abria um furo entre as asas e passava-lhes um fio. Depois amarrava-lhes nas orelhas, a servirem de brincos vivos e sonoros. As cigarras, diziam-se, eram elas que lhe tinham comido o cabelo.
Pois foi esta definhosa, maleijadíssima mulher que se achegou ao nascido e dele se ocupou. Levantou o orfãozito por um braço, erguendo-lhe acima da cabeça. Em seu desajeito devia magoar o pequeno. Contudo, mesmo em tal desconforto, o menino parou de chorar. E quando Tazarina lhe ofereceu o regaço, o menino procurou o seio dela, sem recheio. À medida que dava mama, Tazarina se ia perfilando mais e mais segura, capaz de exercer ternura. Seu corpo ensaiava mesmo a graça de ser mulher.
Foi então: os refugiados assistiram ao que nem davam crédito. Pois a pobre mulher começou a cantar. Já não se servia de rouquejos. Antes debitava doces embalos. Aos poucos ela se ia enchendo de corpo, seus seios se volumavam, os olhos se metalizavam, seus cabelos se preenchiam, capazes de pentes e penteados.
O menino se saciou e encostou no colo de Tazarina o seu primeiro sorriso. De longe, alguém atirou um pano que Tazarina apanhou e usou para cobrir a criança.
Depois ela se afastou em caminhar sereno, altiva como se houvesse estrada e o destino fosse sua exclusiva posse. A um momento, Tazarina se voltou para encarar a multidão. Nunca se viu, dizem, mãe em tanta compostura. O rosto dela merecia toda a luz. De cada lado, pendia a fulgência de ouro. As cigarras, seus antigos brincos, se haviam convertido em metal, com sonoras cintilâncias.
Refaçam-se agora as contas da humanidade habitável. Pois cada menino nascido faz nascer uma mãe de uma respectiva mulher. Assim, cada novo ser triplica o número dos viventes. Um filho, afinal, é quem dá à luz a mãe.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Novas Oportunidades!!

Novas oportunidades de voltar a viver um pouco do que foi a escola à vinte e poucos anos atrás?!!
É uma boa experiência para quem todos os dias enfrenta muitas ofertas, algumas de não deitar fora, outras detestáveis. Esta é seguramente de aproveitar.
Os meus filhos abriram os olhos de lés a lés quando lhes disse que ia voltar à escola. É que para eles a escola ainda está a começar e o pai, das duas uma, ou é o todo poderoso que já sabe tudo, ou então afinal o todo poderoso é a escola que ensina coisas até aos adultos. É sadio que os ponha a pensar.
Por minha parte, a escola é um exercício que actualiza os conhecimentos. Na minha profissão, como em tantas outras da nossa sociedade, entramos num processo de formação contínua para elevar o nível de qualidade, de trabalho e de vida. O processo RVCC veio preencher a lacuna que havia no sistema educativo. Houve tempos em que tentei completar o 12º ano, mas não havia equivalência com o ensino de à vinte e poucos anos atrás. Agora vou fazer o "update" das minhas competências e compreender um pouco do "selfmademan" que tenho sido.