"Linha severa da longínqua costa -
Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta
Em árvores onde o Longe nada tinha;
Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:
E, no desembarcar, há aves, flores,
Onde era só, de longe a abstracta linha".
"In - Horizonte"
Fernando Pessoa
Quim Carneiro é um homem da terra, não do mar, mas sente-o todos os dias. Trabalha no posto de vigia do Cais das Marés em Viana do Castelo a abastecer os barcos que se chegam à costa. E são muitos, de várias cores e feitios e, várias línguas também.
É um homem maduro, na língua e no feitio. Tem a antiga 4ª classe e é com ela, com a maturidade, com a língua e o feitio, que faz poesia. E é a olhar o mar, que todos os dias lhe vem(penso eu) a inspiração.
Tem dezenas de poesias escritas e guardadas na sua gaveta, que por um inevitável acaso de conversa mas mostrou. Em honra às poesias e aos poetas escondidos deste Portugal, deixo aqui um pequeno testemunho por ele escolhido, de entre os rabiscos da sua gaveta.
O Vento
Quem és tu?
Tu que me empurras e não te vejo,
Procuro agarrar-te e não consigo,
Cada vez tens mais força
E não te cansas.
Quem és tu?
Eu não te bebo
E pareço ébrio.
Eu que olho para o céu
E vejo as nuvens correr,
Pois tu as empurras…
Pois tu existes
E não mostras a força que tens.
Tu que enfureces o mar
E ele não te sustem.
E de novo pergunto.
Quem és tu?
Eu que te sinto
E não sei de onde vens;
Que te deram um nome.
Não tens pátria nem lar,
Não és mendigo,
Mas corres o mundo
Sem nunca parar.
E de novo te pergunto.
Quem és tu?
Eu que vejo a areia do deserto andar,
E não tem pernas,
Pois tu a empurras.
E eu não te vejo,
Mas tu estás lá.
Eu sei a certeza, pois tu existes.
Quantos te amaldiçoam
Por tu destruíres
E outros te abençoam
Por tu os ajudares.
Quem és tu?
Eu não penso mais,
Pois já estou cansado…
Não consigo saber de onde vens.
Quem és tu?
O Mar tem mais encanto
I
O mar tem mais encanto
Num dia de temporal
É ver o branco da espuma
Espraiando-se no areal.
II
Nas falésias rendilhadas
É ver o efeito que tem
É como Géisers na terra
Que sobem num vai e vem.
III
Nos dias de ventania
Olhando para todo o mar
Parecem gaivotas brancas
Em bandos a esvoaçar.
IV
Tão maltratado tu és
Pois que me digam que não
A culpa é toda do Homem
Sem ser chamado à razão.
V
Podem me chamar de maluco
Quando eu para ti falo
Eu tenho a minha razão
Por isso nunca me calo.
VI
Não é mentira o que digo
Pois digam-me se não é verdade
Há quem se queixe e não fale
Como vou eu ficar calado.
Quem és tu?
Tu que me empurras e não te vejo,
Procuro agarrar-te e não consigo,
Cada vez tens mais força
E não te cansas.
Quem és tu?
Eu não te bebo
E pareço ébrio.
Eu que olho para o céu
E vejo as nuvens correr,
Pois tu as empurras…
Pois tu existes
E não mostras a força que tens.
Tu que enfureces o mar
E ele não te sustem.
E de novo pergunto.
Quem és tu?
Eu que te sinto
E não sei de onde vens;
Que te deram um nome.
Não tens pátria nem lar,
Não és mendigo,
Mas corres o mundo
Sem nunca parar.
E de novo te pergunto.
Quem és tu?
Eu que vejo a areia do deserto andar,
E não tem pernas,
Pois tu a empurras.
E eu não te vejo,
Mas tu estás lá.
Eu sei a certeza, pois tu existes.
Quantos te amaldiçoam
Por tu destruíres
E outros te abençoam
Por tu os ajudares.
Quem és tu?
Eu não penso mais,
Pois já estou cansado…
Não consigo saber de onde vens.
Quem és tu?
O Mar tem mais encanto
I
O mar tem mais encanto
Num dia de temporal
É ver o branco da espuma
Espraiando-se no areal.
II
Nas falésias rendilhadas
É ver o efeito que tem
É como Géisers na terra
Que sobem num vai e vem.
III
Nos dias de ventania
Olhando para todo o mar
Parecem gaivotas brancas
Em bandos a esvoaçar.
IV
Tão maltratado tu és
Pois que me digam que não
A culpa é toda do Homem
Sem ser chamado à razão.
V
Podem me chamar de maluco
Quando eu para ti falo
Eu tenho a minha razão
Por isso nunca me calo.
VI
Não é mentira o que digo
Pois digam-me se não é verdade
Há quem se queixe e não fale
Como vou eu ficar calado.
Joaquim Cecílio Pedro
Torre de Vigia do Cais das Marés
Viana do Castelo